Poesia

underground, sp

segunda, 6h30 p.m. preciso voltar pra casa depois de um dia cansativo.
faz frio, chove e eu acabei de pisar em merda humana, detalhe que não seria de bom tom esconder. entro no terminal barra funda. tento recarregar meu bilhete único, mas a máquina não consegue puxar minha nota surrada de R$20. desço as escadas. é muita gente, muita gente aguardando para entrar no vagão. entro na fila (?) com minha amiga – a mesma que me pagou a passagem para eu não ter que enfrentar a fila de cima, da bilheteria. esperamos passar uns 6 trens para conseguir entrar – a metade deles passou e não parou; vazios, iam desafogar a próxima estação, ainda mais cheia que esta. no meio de alguns empurras, começamos a conversar sobre a situação. a mulher ao lado disse que aquela cena era normal. a gente falou: normal não, né? pode ser comum, normal não é. emendei: ­­é tenso isso aqui.pensei e se eu tropeçasse no vão, se ficasse presa na porta fechando, se sentisse um homem me roçando. pensei ainda e se houvesse políticas públicas efetivas, se o monotrilho ficasse pronto depois de estar 3 anos em construção, se soubéssemos exigir aquilo que merecemos. ao invés de continuar pensando, passei a viagem falando bobagens. mas aí um senhor caiu e ficou com o pé preso no vão ao tentar sair na república. eu me perguntei: que república. que república é essa que estamos desconstruindo diariamente.

imagem_wayne levin