Poesia

supremacia do absurdo

talvez,
mais um encontro
com todas as partes envolvidas
menos com quem interessa

rolês com o vazio
com hora marcada
lista de espera &
senhas no painel

às vezes o mundo chama
para ser real
caia do sonho, já!

o mundo virou
a esperança ruiu
o olhar no futuro
apregoando progresso
da vida
da liberdade
da diversidade
de ser e lutar
por um campo mais justo
mais humanamente decente
vai assim…
virando poeira

e nada mais
de querer alívio
anunciar

não.
não é nada disso
trata-se de uma rua escura &
se dá de cara
com um objeto
que derruba você
pela tangente
num golpe de vista turvo

tu
tu
tudo
com supremo, com tudo
su
su
su
supremacia do absurdo
ab
surdo
todos surdos, mudos
vendo
tu
tu
tudo
e nada

calma!
respira!
respira!
mais fundo!
devagar…
com razão e desejo
algo principia

sim.
carece de se livrar das coisas
já conhecidas
falar com anônimos &
muito, mas muito cuidado
com o vão entre as letras ele pode causar acidentes

assim, na moral
falta moral
sobra moro
eu nojo
morro de nojo
no
jo
de faltar minc
clt
sp
você

chega de
ter que
vender a alma &
os fios de cabelo
a preço de banana &
hambúrgueres
as prestações não compensam a gastrite
a vida não precisa de boleto com &
sem código de barras

é barra!
vivemos para ser força
e lutar
guerrear
combater
bradar

com voz
gestos
encontros
nos achamos nos cantos
que inda hão de anunciar
recôncavos humanos

demasiado humana
eu desespero suprema, com tudo
tudo
dita-tudo
dita
ditadura
a bala dura
du
du
dura

talvez haja um toque macio
entre o branco da página
e o que ele diz & entre o movimento
que leva a xícara à boca & o sorver do café
a classe dos beijos matinais mais comuns
junto dos cigarros que não fumo &
vejo aos montes na porta de casa
quem sabe, assim

a pensar
criar
construir
um lugar
nosso
que cabe
sempre mais muitos
acolhidos
reinventados
em propósitos de ser

que o possível se faça visto:
alguém bêbado no metrô;
fãs pedindo músicas nos intervalos;
os tacos que se soltam do chão;
o efeito das multidões nos joelhos;
uma lista das coisas
que ficam debaixo da cama ou
do sofá
um buquê de presságios,
jardins em miniatura
cultivados entre o pâncreas &
a glândula pineal
aguados a cada 15 dias,
mesmo sob muito sol;
com essa flora
fazemos nossa lápide, cotidianamente.

afunda funda
funda fundo
a revolta
a volta
o dente
a presa que solta
sol
sol
sol
soooooooolta

povo na rua
pretos, brancos, amarelos, pardos, vermelhos
que não
não
não
nunca irão
abaixar suas guardas
recolher suas armas
temer os coturnos

poema-performance dos Caóstricos – com Cândida Almeida e Fabricio Costa. Casa das Rosas, 24 de julho 2019