Poesia

no consultório

esta semana eu fui à ginecologista, a clássica consulta anual.
como recentemente mudei de plano de saúde, precisei buscar um novo profissional. não pedi referência a ninguém, apenas consultei o catálogo do plano e escolhi por critérios simples (distância da minha casa, por exemplo).
cheguei, sentei, esperei.
entrei. ela me cumprimentou da cadeira.
olhando para o computador, me disse que faria algumas perguntas:
“toma algum remédio”, “tem doenças na família”, sente alguma dor ou desconforto”, “fuma”, “alérgica a algo” e mais outras.
depois de entender que era apenas uma consulta de rotina, disse que pediria alguns exames.
digitou, digitou.
imprimiu três guias de exames.
me entregou e acenou com a cabeça um “ok, é isso”.
confusa, eu franzi a testa e perguntei: “você não vai me examinar?”
e ela me arremessa a bomba:
“se você quiser, eu posso”.

ca-ra-lho. mil caralhos voadores.
a vontade era dizer: sim, sonhei com você duas vezes essa semana, não via a hora de sentir seu espéculo na minha xoxota, mas ao invés disso pus aquele roupão descartável ridículo e abri minhas entranhas para a doutora.

pensei várias possibilidades: a médica me achou saudável por fora e desencanou de olhar por dentro, confiou 200% na minha palavra de não sentir dor, acha úteros órgãos muito feios, não curte pequenos, curtos ou grandes lábios, é preguiçosa.
não cheguei a conclusão alguma (exceto de que não volto mais lá), mas fiquei bolada: um médico que pergunta ao paciente se ele quer ser examinado. é isso mesmo que está rolando no mundo?

minha mãe diz que não se encontra mais médicos como antigamente. é foda de triste, mas nesta semana tive que concordar com ela.

foto_ simone badana