Colagem

corpo político-sensível

depois de uma série de três encontros do projeto corpo político, corpo sensível, aconteceu uma intervenção para celebrar as trocas e aprendizados de todas nós sobre a presença poética e política da mulher no espaço público. experimentei sensações novas, um lugar de fala seguro.

divido aqui também o exercício-observação que fiz para o primeiro encontro, em outubro do ano passado.

Dia 18 de outubro, terça.
Acordo pensando no nascimento do Romeu, filho da minha amiga mais antiga, minha amiga de infância, minha irmã de rua. Tudo corre bem mas meu coração fica agitado mesmo assim. Fico em casa, trabalho num roteiro, vou buscar meu mac que travou e estava no hospital dos macs. Penso na reunião de nome intrigante que vai rolar à noite: encontro corpográfico.

***

Saio de casa para ir ao encontro. No caminho para o ponto de ônibus, paro no boteco/restaurante/padoca, esse local tão paulista, para comer algo. A música rolando é um sertanejo. Peço um croissant de quatro queijos e uma média. Penso que sou grata aos portugueses por terem sido eles a miscigenar nossa terra e não os espanhóis, mas que uma coisa eu admito ser mais legal em espanhol: chamar croissant de media luna. Penso de novo que o Romeu nasceu – e eu? Entro no ônibus. Coloco o novo álbum do Sabotage, lançado no dia anterior, 13 anos após ele ter sido assassinado. Bang bang.
Ônibus é um evento, antes de tudo: sala de trabalho, happy hour, recarga pro celular. E a Zona Sul viaja no corredor rumo à Bandeira. Vou olhando pela janela. Pedaços de luz chegam em mim. As pessoas, não. Nove de Julho foi uma revolução. Necessidade atual: evolução Todos verão o horário de verão.
Minha garganta dói.


Pixo, lambe, letreiro, placas
Sinalização, anúncios
Respiro.
Mais placas, fones de ouvido
Coques, tattoos, bonés
Expiro.
Prédios espelhados, túnel,
Malditos fios e um pixo:
Noiva, não case virgem.
Inspiro.
O dia vai escapando,
Mais um.
Menos um.