Poesia

beirando o ano

na beirada do ano eu olhei minha família e me vi em mil folhas.
contemplei o atlântico e ouvi barulhos de pensar em planos futuros.
eu vi peixes listrados duplicados de tamanho através daquele efeito amplificador das lentes,
senti meu corpo tremular na água salgada e meu olho ardeu como gengibre.
eu mandei manipular fórmulas, e vi me manipularem na minha cara e sem pudor, sem nem poesia.
eu deixei de encarar multidões, deixei de estudar aulas e de exercitar músculos, eu deixei só para ver como é.
arrumei prateleiras e cantei palavras inventadas.
eu troquei coisas de lugar e acordei lembrando de sonhos – os sonhos insistem em me banhar de estrelas.
li dois livros entre as estradas interestaduais, e comecei outro, e nesse avisto as veredas.
eu olhei fotos de mulheres vulgares e fiquei com vontade de ser uma delas.
quero muito apalpar isso e aquilo que não sei.